Prestes a comemorar 111 anos de existência, o Arquivo Público doEstado do Pará é reconhecidamente uma das maiores instituições arquivísticas brasileiras, sendo prestigiado pela UNESCO com o selo “Memória do Mundo/Memory of the World – MOW”, pelo seu trabalho com a guarda da documentação do período colonial da Amazônia (1649 – 1823).
Dentro do seu acervo, que recebe visitas de pesquisadores do Brasil e do Mundo, estão importantes documentos e iconografias como a ata da adesão do Pará à independência, os documentos da administração do diretor Emílio Goeldi no Museu Paraense e da administração do interventor Magalhães Barata. Porém, quais outras preciosidades se escondem no seu centenário prédio?
Em duas salas no Arquivo Público estão guardados 1663 pacotes, alguns em avançado estado de deterioração e todos sem nenhuma identificação. Dentro destes pacotes estão documentos que percorrem quase quatro séculos de história do Estado.
Agora, através do Projeto "Preservação, Conservação e Acesso: proposta de tratamento técnico da documentação avulsa do Arquivo Público do Estado do Pará", desenvolvido pela Associação dos Amigos do Arquivo Público do Estado do Pará (Arqpep), e com patrocínio do Programa Petrobras Cultural, este precioso acervo, denominado de “Documentação Avulsa” finalmente recebe a devida atenção.
O projeto está sendo coordenado pelo historiador Leonardo Torii e pela restauradora Ethel Soares, que encaram o trabalho de identificar, higienizar e recuperar todo este volume de documentação para finalmente disponibilizá-lo para o acesso do público em geral.
“O principal desafio é a identificação deste material, pois é comum em um mesmo pacote encontrar documentos dos séculos XVIII, XIX e XX, de origens e fundos diferentes”, explica Torii.
Ainda de acordo com os coordenadores do projeto, este acúmulo de documentação sem a devida catalogação e tratamento é fruto de décadas de descaso com arquivos tão importantes como ocorrências policiais e boletins médicos que foram direcionados para o Arquivo Público e não receberam nenhum tipo de atenção, sendo apenas envelopados e colocados em prateleiras.
Para Ethel Soares, é preciso conscientizar o público que o patrimônio histórico é mais do que apenas prédios e monumentos. “Se mesmo com edificações já há casos notáveis de descaso com o patrimônio imagine com documentos, que é algo muito mais fácil de deteriorar e ainda não é encarado pelo grande público como algo que deve ser preservado”.
Os trabalhos de arquivologia do projeto estão sendo feito com as mais modernas técnicas aplicadas atualmente em grandes instituições, como o Arquivo Público do Estado de São Paulo e Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro. Em janeiro deste ano foi realizado um curso de atualização para todos os funcionários e servidores do APEP ministrado pela Profa. Dra. Ana Célia Rodrigues, coordenadora do curso de Arquivologia da Universidade Federal Fluminense.
Com os trabalhos iniciados em janeiro deste ano, e ainda na primeira das quatro etapas do projeto, alguns documentos importantes já foram encontrados dentro de pacotes como os “Autos de Liberdade”, que fazem parte do processo de remoção dos restos mortais do maestro Carlos Gomes.
A previsão de conclusão do projeto é de dois anos. Até lá, o que mais poderá ser encontrado dentro desses pacotes que sobreviveram ao passado só o futuro dirá.
Antonio Pacheco Neto - ASCOM APEP / Arqpep
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